Loriga - Notas históricas
As origens de Loriga remontam há mais de dois mil e seiscentos
anos.Sabe-se que,no século VI antes de Cristo,já existia na
colina,onde hoje está o centro histórico da vila,uma povoação
cujos
habitantes se dedicavam fundamentalmente à pastorícia e à
agricultura.
Esta povoação tinha uma configuração curiosa pois estava
dividida em
dois núcleos.Um deles,o mais antigo e principal,situava-se na
àrea
onde hoje existem a Igreja Matriz e a parte superior da Rua de
Viriato,e o seu perímetro era defendido por uma barreira
constituída
em parte por muros,em parte por paliçada de madeira.
O outro núcleo da povoação,situava-se a algumas centenas de
metros
mais acima,encostado a um promontório rochoso,onde
hoje existe o
Bairro de S.Ginês (S.Gens).Este núcleo que,até à época dos
Romanos,tinha poucas habitações,ganhou então maior expansão que
se
acentuou com a chegada dos Visigodos.Aliás,este actual bairro do
centro histórico da vila,deve o nome a uma ermida construída
pelos
Visigodos em cima do afloramento granítico,e cujo orago era
S.Gens,nome que curiosamente os loricenses trocaram,séculos mais
tarde,por S.Ginês,talvêz por ser mais fácil
de pronunciar.Foram
também os Visigodos que substituíram o nome latino Lorica,pela
derivação Loriga,nome actual que tem o mesmo significado.
Com a chamada romanização,surgiram pequenos núcleos
habitacionais,com pouca expressão,que viriam a
desaparecer,espalhados pelo Vale de Loriga.É que a romanização
conduziu à morte inevitável dos castros lusitanos espalhados
pela
serra que estavam situados em locais inviáveis,usados
como
refúgio,sítios onde a única vantagem existente era a facilidade
de
defesa,e que não tinham os requisitos fundamentais para a
permanência de uma povoação a longo prazo,tais como a existência
próxima de àgua e terras próprias para a agricultura.
Um exemplo clássico é o caso do castro que estava situado perto
da
Portela de Loriga,numa colina que por esse facto se chama,do
Castelo,e cujas ruínas já muito degradadas,ainda eram
visíveis
no
século XVIII.Os poucos habitantes desse castro,talvêz a
maioria,devem ter-se fixado no castro vizinho de Lorica,que fora
sempre maior e mais populoso,que estava sempre à vista e que
conheciam bem.Aliás,havia vários locais do Vale de Loriga onde
existiram habitações,que eram especiais,ou mesmo sagrados para
os
habitantes destes dois castros.Um desses locais era certamente o
que
hoje é conhecido por Campa,onde pode admirar-se uma
sepultura
antropomórfica com cerca de dois mil e seiscentos anos.
Pela sua localização estratégica,numa colina defensável junto a
dois
cursos de àguas abundantes,e próxima do ponto mais alto da
serra,transformada pelos Lusitanos numa gigantesca fortaleza,a
povoação rápidamente se tornou num bastião lusitano na luta
contra
os poderosos Romanos.Não foi por acaso que,assim que começaram a
ter
algum controlo sobre este coração da Lusitânia,os Romanos
se
deram
ao trabalho de construír uma estrada nesta zona montanhosa e
difícil
para ligarem Lorica ao restante império.Se mais nenhum dado
existisse sobre a antiguidade da povoação naquela localização,a
existência da estrada romana e o traçado escolhido,provam por si
que
ali,naquela colina,já havia uma povoação com alguma
importância.Se
assim não fosse,a estrada teria tido um traçado
diferente,aproximado
com o da actual EN231,evitando os
declives existentes,e teria
sido
mais fácil de construír para os Romanos.
Para além dos ancestrais Lusitanos,os povos que mais influência
exerceram em Loriga foram,pela ordem de chegada,os Celtas,os
Romanos,e os Visigodos.A presença dos Mouros em Loriga foi
escassa,já que eles nunca apreciaram muito estas paragens,foi
portanto pouco influente,e foi também conflituosa,tendo sido
expulsos pelo menos uma vêz pelos loricenses.Pode
imaginar-se
quais
teriam sido as consequências repressivas...Tais factos,este em
concreto ocorrido no início da presença dos Mouros,deu origem à
lenda da origem da aldeia vizinha de Valezim e que diz o
seguinte:"...Tendo sido expulsos de Loriga,os Mouros chegaram
àquele
vale e exclamaram:Neste vale sim!Decidiram então fundar ali uma
povoação a qual ficou com o nome de Valezim devido à tal
exclamação...".Claro que a origem do nome daquela
aldeia
histórica
não é essa,pois os Mouros não falavam português,e esse é o
pormenor
da lenda que não tem nada de histórico.
Com o nascimento de Portugal,Loriga passou a ter sempre a tutela
real,salvo duas excepções.Uma,foi logo no início,no tempo do rei
D.Afonso Henriques,em que Loriga,durante um breve período de
cerca
de vinte anos,pertenceu ao fidalgo João Viegas,também conhecido
por
João Rânia ou Ranha,que lhe deu o primeiro foral.A
vizinha
aldeia de
Sandomil pertencia também a esse fidalgo.A outra excepção foi no
tempo do rei D.Afonso V em que as Terras de Loriga e o concelho
passaram a pertencer ao fidalgo Àlvaro Machado,que era também
senhor
de Oliveira do Hospital e de Sandomil.Àlvaro Machado era filho e
herdeiro de Luís Machado e durante o reinado de D.Manuel I,o
concelho e vila de Loriga voltaram à posse da
Coroa.Loriga,aliás,pertencia também à Vigariaria do
Padroado
Real,e
foi o próprio rei,na época D.Sancho II,que mandou construír a
Igreja
Matriz em 1233,igreja essa que acabaria destruída pelo sismo de
1755.A igreja,construída no local de um pequeno templo
visigótico,do
qual foi aproveitado uma pedra com incrições,colocada por cima
de
uma das portas laterais,era de estilo românico,com três naves,e
traça exterior recordando a Sé Velha de Coimbra. O primeiro
foral
régio concedido à vila de
Loriga,teve o cunho de D.Afonso
III,seguindo-se os forais de D.Afonso V e de D.Manuel I.
A àrea das Terras e Concelho de Loriga,correspondia,até ao
início do
século XIX, à mesma àrea onde hoje existem,além da vila,as
freguesias de Cabeça,Vide,Alvoco da Serra e Teixeira.É o
território
existente entre a Portela de Loriga e Pedras Lavradas.No século
XII
a Portela de Loriga era a "fronteira" entre o Município
Loricense e
o Couto de S.Romão até ao
início do século XIII,quando Valezim
recebeu foral,passando então a marcar o limite com aquele
concelho.No início do século XIX o Município Loricense foi
ampliado
para norte,passando a incluír as actuais freguesias de Valezim e
Sazes da Beira.Todas as sete freguesias,incluíndo a
vila,constituem
a Região de Loriga, e também a Associação de Freguesias da Serra
da
Estrela,com sede na vila.
O terramoto de 1755,como é óbvio,não provocou apenas a
ruína da
Igreja Matriz.Outros edifícios importantes foram afectados,tais
como
a residência paroquial,que ficou sem a fachada,e o edifício da
Câmara Municipal que abriu brechas,embora sem provocar a
ruína.Os
danos em habitações foram também enormes,e a população de Loriga
teve grandes dificuldades em recuperar da
tragédia.Miraculosamente o
número de vítimas foi muito reduzido,apesar dos grandes estragos
em
quase todos os edificios.Um emissário
do Marquês de Pombal
esteve em
Loriga a avaliar os prejuízos,mas nunca chegou do seu governo
qualquer ajuda de monta,ao contrário do que aconteceu na
Covilhã,outra localidade serrana também muito afectada.
Desde o início do século XIX,que a indústria têxtil artesanal e
doméstica,ligada à pastorícia e produção de lã,existente em
Loriga
há muitos séculos,se organizou em modernas fábricas.Loriga
transformou-se numa das localidades beirãs mais
industriais,e
até
meados do século XX foi a localidade mais industrializada da
àrea do
actual concelho.Tempos houve em que,na região,só Covilhã
ultrapassava Loriga em número de empresas.
A indústria floresceu e desenvolveu-se graças ao espírito
empreendedor dos loricenses,e apesar de,por exemplo,dos maus
acessos.Até aos anos trinta do século XX,a única estrada de
acesso a
Loriga que existia era a velhinha estrada romana,construída
no
século I antes de Cristo.Empresas como as fábricas da
Fândega,Regato,Redondinha,Tapadas,Leitões, Lamas,que
infelizmente já
não existem,ficaram na história.As indústrias de malhas e
metalúrgica surgiram na primeira metade do século XX e ganharam
também grande destaque.
O turismo é hoje um pilar importante da economia da
vila,destacando-se por exemplo,o facto de a única estância
de
esqui
existente em Portugal estar situada em Loriga,mais exactamente
na
parte superior do vale com o mesmo nome.