Jornal "24 HORAS", 22-Setembro-2009, Olivença, MUITO BOM,
Joaquim Letria, "O Espião da Madeira", p. 45, 25.ª HORA O ESPIÃO DA MADEIRA POR JOAQUIM LETRIA(*) __________ (*) Para quem não sabe: Joaquim Letria é considerado um dos maiores
jornalistas portugueses. Esteve ligado à ________ Os nossos políticos viraram as atenções para Espanha por causa do comboio rápido mas esqueceram-se da presença da Madeira, aquando da visita dos Reis de Espanha à pérola do Atlântico. Espanha poderia ter enviado outra banda das milhares de que dispõe, mas teve o desplante de mandar a os portugueses, continentais e insulares, com responsabilidades na sua terra, são mansos. Já em Julho os extremenhos tiveram o cuidado de inaugurar em Olivença um busto de principal carrasco de Olivença, na torre de menagem do castelo daquela
vila, mandado construir por...D. Dinis, sem que deste lado da fronteira alguém reagisse de qualquer forma. Fazer a dar dois concertos como banda espanhola durante a visita real não incomodou ninguém no Funchal nem em Lisboa. Extraordinário! Por estas e por outras até percebo que alguém mande um espião à Madeira para informar que raio andam a fazer os chefes dos portugueses. Porque os espanhóis fizeram, e bem, a sua obrigação. Os nossos representantes, se calhar, andavam, na poncha, nos bordados e no maracujá. (FIM) ________________________________________________________________________________ UMA INFORMAÇÃO PARTICULAR, QUE TALVEZ AJUDE A DISCUTIR O T.G.V., EVITANDO OMITIR FACTOS HISTÓRICOS SOBRE OS COMBOIOS! RENVIO ESTA INFORMAÇÃO COMO ME FOI ENVIADA, ISTO É, SEM AUTORIZAÇÃO, MAS COM O OBJECTIVO DE AJUDAR À DISCUSSÃO PÚBLICA, PARA QUE, COM MODERAÇÃO, ESTEJAM PRESENTES TODOS OS ARGUMENTOS!!! Público, 15 de Setembro de
2009 A VINGANÇA DE COMENTÁRIO No princípio, o Reino de Portugal começou por construir o caminho-se-ferro de Lisboa a Elvas, numa linha onde algures num ponto chamado Entroncamento partiria um ramal para o Porto. E assim foi. O comboio chegou primeiro a Badajoz em 1863, mas de Lisboa ao Porto só viria a haver comboios directos em 1877 com a inauguração da Ponte de Maria Pia. A prioridade foi sempre a de ligar os portos a Espanha e por isso tudo se fez para romper as linhas em direcção à fronteira. Enquanto foi construída aos soluços, Formoso, foi feita em quatro anos (um tempo recorde para a época) e pôs polvorosa a clamar por uma linha directa a Espanha pelo vale do Douro. Fez-se então do Porto a Barca de Alva (1887), após um investimento brutal que levaria a praça financeira da Invicta à falência, ficando os seus bancos impedidos de cunhar moeda - um caso que ficou para a História como a "Salamancada". Mais Beirã/Marvão), que constituía um bom atalho para Madrid. O objectivo era chegar aos fosfatos da zona de Cáceres, que seriam escoados para Lisboa, mas revelou-se outro fiasco porque o filão esgotou rapidamente. Além das amortizações de um investimento inútil, a Real Companhia dos Caminhos de Ferro (portuguesa) assumiu então encargos que a obrigaram a pagar as obras de conservação da estação madrilena de Delícias. Enquanto isso, Espanha construía um eixo ferroviário desde Vigo até Ayamonte que contornava a fronteira portuguesa. Era a "cintura de ferro",
como ficou conhecida. De resto, em Badajoz e em Vilar Formoso, durante vários anos, havia linha
desde Lisboa, mas não havia continuação para Madrid porque os espanhóis tardaram em ligar-se às fronteiras. Portugal construíu, pois, a sua rede ao sabor dos interesses espanhóis. E também foram eles os primeiros a fechar as poucas ligações à fronteira quando nos finais do século XX se tornou moda encerrar linhas de caminha-de-ferro: desmantelaram a linha de Huelva a Ayamonte e foram os primeiros a fechar La Fregeneda quando o comboio ainda apitava em Barca de Alva. Mais recentemente, em Linha da Beira Alta até Vilar Formoso. Mas a Espanha, apesar dos compromissos assumidos na
Cimeira da Figueira da Foz em 2003 e de já ter um projecto terminado, nunca avançou com as obras de electrificação até à fronteira lusa. E quando nos alvores do século XXI se começa a falar no TGV, Portugal começou por querer fazer uma linha Lisboa-Porto-Madrid ("T" deitado) para
se opor ao centralismo do país vizinho. Mas acbaria por se conformar com uma linha directa de Lisboa a Madrid. Com prioridade para a primeira, claro. Tal como no século XIX. as motivações são financeiras. Mas sabe-se lá se não quererá acertar contas com a
História. FIM Jornal "TERRAS BRANCAS", Borba, 17-Setembro-2009 ESPANHÓIS E T.G.V. Não sou partidário de uma política feita contra Espanha. Não gosto
de velhos fantasmas. Também não sou partidário de situo-me muito mais à esquerda. Em linhas gerais, nem sou contra o T. G. V. Há, todavia, um aspecto que deixa qualquer conhecedor de um mínimo
de História das relações luso-espanholas algo perplexo. Na verdade, declarações de dirigentes espanhóis, principalmente do Presidente da Extremadura espanhola, reforçadas agora por protestos do Ministro Espanhol do Fomento, José Blanco, não podem deixar, no mínimo,
de fazer sorrir alguns portugueses. Assim, Guillermo Fernández Vara (natural de Olivença) diz não acreditar que Portugal desista do TGV, «rompendo o acordo entre os dois países», pois trata-se
de um «compromisso internacional»; acrescenta que «Portugal, à semelhança dos seus dirigentes políticos, é um país sério que sabe até onde tem de caminhar para preparar o futuro(...)». Comentaristas de jornais espanhóis opinam que Portugal não honrará
os seus compromissos se desistir do TGV, e que mesmo em termos morais tal atitude é criticável. Recordemos que no dia 1 de Setembro de 2009, numa reunião em Elvas
entre autarcas portugueses (Alandroal, Arronches, Borba, Campo Maior, Crato, Elvas, Estremoz, Évora, Gavião, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Vila Viçosa) e espanhóis (Cáceres, Mérida, Plasencia, Olivença e Lobón) para apoiar o TGV, Angel Calle, de Mérida, em representação dos alcaides espanhóis, afirmou, entre outras coisas,
que «os acordos internacionais são para cumprir(...)». Ora, há algo nesta indignação que soa a contradição flagrante. Na verdade, todos estes dirigentes políticos parecem esquecer-se de que, para Portugal, há um
acordo internacional não cumprido pela Espanha (1814-1815-1817), segundo o qual Olivença deveria ter voltado à posse de Portugal. Razão porque aceita, até hoje, que Olivença seja território juridicamente espanhol. Até o Alqueva tem
algo a ver com isto, pois, pelos acordos de 1964 e 1968, ainda em vigor, é claro que a questão de Olivença está presente. O que permite Alqueva sem que quase nada temha de comunicar a Madrid. O Dicionário Jurídico da Administração Pública (1999) explica bem a posição portuguesa, bem como as placas e indicações na estrada que liga Elvas à Ponte da Ajuda. Conheço alguns dos dirigentes políticos espanhóis que têm produzido tais afirmações. Penso serem pessoas de bem, e dirigentes que fazem o que podem pelos seus povos, e até que querem mesmo promover a amizade com Portugal. Não questiono esse aspecto, nem os inúmeros argumentos económicos a favor do TGV. Mas, por favor, não usem demasiado o argumento do respeito por
tratados internacionais. Não lhes fica bem. Estremoz, 14 de Setembro de 2009 Carlos Eduardo da Jornal "ALENTEJO POPULAR" (Progressista)(Chega a todo o
Alentejo), 17-Setembro-ESPANHÓIS E T.G.V. Não sou partidário de uma política feita contra Espanha. Não gosto
de velhos fantasmas. Também não sou partidário de situo-me muito mais à esquerda. Em linhas gerais, nem sou contra o T. G. V. Há, todavia, um aspecto que deixa qualquer conhecedor de um mínimo
de História das relações luso-espanholas algo perplexo. Na verdade, declarações de dirigentes espanhóis, principalmente do Presidente da Extremadura espanhola, reforçadas agora por protestos do Ministro Espanhol do Fomento, José Blanco, não podem deixar, no mínimo,
de fazer sorrir alguns portugueses. Assim, Guillermo Fernández Vara (natural de Olivença) diz não acreditar que Portugal desista do TGV, «rompendo o acordo entre os dois países», pois trata-se
de um «compromisso internacional»; acrescenta que «Portugal, à semelhança dos seus dirigentes políticos, é um país sério que sabe até onde tem de caminhar para preparar o futuro(...)». Comentaristas de jornais espanhóis opinam que Portugal não honrará
os seus compromissos se desistir do TGV, e que mesmo em termos morais tal atitude é criticável. Recordemos que no dia 1 de Setembro de 2009, numa reunião em Elvas
entre autarcas portugueses (Alandroal, Arronches, Borba, Campo Maior, Crato, Elvas, Estremoz, Évora, Gavião, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Vila Viçosa) e espanhóis (Cáceres, Mérida, Plasencia, Olivença e Lobón) para apoiar o TGV, Angel Calle, de Mérida, em representação dos alcaides espanhóis, afirmou, entre outras coisas,
que «os acordos internacionais são para cumprir(...)». Ora, há algo nesta indignação que soa a contradição flagrante. Na verdade, todos estes dirigentes políticos parecem esquecer-se de que, para Portugal, há um
acordo internacional não cumprido pela Espanha (1814-1815-1817), segundo o qual Olivença deveria ter voltado à posse de Portugal. Razão porque aceita, até hoje, que Olivença seja território juridicamente espanhol. Até o Alqueva tem
algo a ver com isto, pois, pelos acordos de 1964 e 1968, ainda em vigor, é claro que a questão de Olivença está presente. O que permite Alqueva sem que quase nada temha de comunicar a Madrid. O Dicionário Jurídico da Administração Pública (1999) explica bem a posição portuguesa, bem como as placas e indicações na estrada que liga Elvas à Ponte da Ajuda. Conheço alguns dos dirigentes políticos espanhóis que têm produzido tais afirmações. Penso serem pessoas de bem, e dirigentes que fazem o que podem pelos seus povos, e até que querem mesmo promover a amizade com Portugal. Não questiono esse aspecto, nem os inúmeros argumentos económicos a favor do TGV. Mas, por favor, não usem demasiado o argumento do respeito por
tratados internacionais. Não lhes fica bem. Estremoz, 14 de Setembro de 2009 Carlos Eduardo da Jornal "A PLANÍCIE", Moura, 17-Setembro-2009 ESTRANHOS ARGUMENTOS Não é intenção deste artigo de opinião emitir juízos sobre a construção, ou não, do TGV (Madrid-Badajoz-Elvas-Lisboa), da sua oportunidade, ou outras considerações. Para isso, muito se tem escrito e escreverá, e será óptimo que a opinião pública esteja o mais esclarecida possível. Há, todavia, um aspecto que deixa qualquer conhecedor de um mínimo
de História das relações luso-espanholas algo perplexo. Na verdade, declarações de dirigentes espanhóis, principalmente do Presidente da Extremadura espanhola, não podem deixar, no mínimo, de fazer sorrir alguns portugueses. Assim, Guillermo Fernández Vara (natural de Olivença) diz não acreditar que Portugal desista do TGV, «rompendo o acordo entre os dois países», pois trata-se
de um «compromisso internacional»; acrescenta que «Portugal, à semelhança dos seus dirigentes políticos, é um país sério que sabe até onde tem de caminhar para preparar o futuro(...)». Comentaristas de jornais espanhóis opinam que Portugal não honrará
os seus compromissos se desistir do TGV, e que mesmo em termos morais tal atitude é criticável. No dia 1 de Setembro, numa reunião em Elvas entre autarcas portugueses (Alandroal, Arronches, Borba, Campo Maior, Crato, Elvas, Estremoz, Évora, Gavião, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Vila Viçosa) e espanhóis (Cáceres, Mérida, Plasencia, Olivença e Lobón) para apoiar o TGV, Angel Calle, de Mérida, em representação dos alcaides espanhóis, afirmou, entre outras coisas,
que «os acordos internacionais são para cumprir(...)». Ora, há algo nesta indignação que soa a contradição flagrante. Na verdade, todos estes dirigentes políticos parecem esquecer-se de que, para Portugal, há um
acordo internacional não cumprido pela Espanha (1814-1815-1817), segundo o qual Olivença deveria ter voltado à posse de Portugal. Razão porque aceita, até hoje, que Olivença seja território juridicamente espanhol. Curiosamente, em relação à obrigação da devolução, e talvez como ironia suprema face ao que está a acontecer, houve até quem já escrevesse que a Espanha só teria uma obrigação moral, portanto não claramente vinculativa. Será que todos estes autarcas e políticos em geral têm consciência
de como soam a falaciosos, neste contexto, alguns dos seus argumentos? Conheço alguns deles. Penso serem pessoas de bem, e dirigentes que
fazem o que podem pelos seus povos, e até que querem mesmo promover a amizade com Portugal. Não questiono esse aspecto, nem os inúmeros argumentos económicos a favor do TGV. Talvez apoie, ou não, alguns deles. Mas, por favor, não usem demasiado o argumento do respeito por
tratados internacionais. Não lhes fica bem. Estremoz, 02 de Setembro de 2009 Carlos Eduardo da PÚBLICO, 19 de Setembro de 2009 //POPULISMO E DEMAGOGIA (NOTA: vejam-se partes doe um discurso de Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros. FIM DA
NOTA) A SEMANA POLÍTICA DE SÃO POPULISMO E DEMAGOGIA São «En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivia un hidalgo...»(1) Assim começa um dos romances míticos da humanidade, escrito por um
senhor chamado Miguel de Cervantes y Saavedra na passagem do século XVI para o século
XVII e um dos ângulos pelos quais pode ser analisado é pelo da resistência de uma cultura medieval e nobre ao avanço do capitalismo e da burguesia na Europa. Este romance da humanidade foi chamado à campanha por Pacheco Pereira, cabeça de lista do PSD de Santarém, que o aconselhou como leitura ao líder do PS e Primeiro-ministro, José Sócrates, a propósito da polémica sobre o TGV. Desconhece-se qual o real motivo por que Pacheco Pereira recomenda
esta leitura, mas a lembrança de "Don Quijote de la Mancha" assenta de facto como
uma luva para caracterizar a clivagem que se está a estabelecer no discurso de campanha entre o PS e o PSD. Independentemente dos méritos e dos deméritos que uma linha férrea
de alta velocidade possa ter, não só como meio de transporte, como enquanto investimento público, há uma dimensão simbólica no debate, que tem sido protagonizado por José Sócrates e Manuela representativa de um mundo em extinção e uma visão modernizadora e ávida do progresso. Isto, claro, com toda a demagogia e todo o populismo que tais posições podem adquirir, quando simplificadas sob a forma de discurso de campanha. É certo que o investimento no TGV cria emprego e negócio, como é certo que há outras formas de o conseguir. É certo que é um projecto modernizador da mas também é certo que não é esta a única forma de modernizar a mesma sociedade portuguesa e os transportes em particular, nem mesmo os ferroviários. É certo que Portugal yem compromissos assinados com o Governo espanhol e com Europeia para construir a ligação por TGV a Madrid. Mas também é absolutamente verdade que todos os acordos são renegociáveis desde que haja vontade política
de o fazer. Assim como também é certo que este investimento significa a entrada de Portugal num segmento de país com transportes de ponta, mas também não deixa de ser
verdade que há países que nada devem ao atraso que não têm TGV, a começar pelo Norte da Europa. E se de facto a ligação ferroviária à Europa tem uma força simbólica grande, desde o tempo em que, no século XIX, a actualidade cultural e literária começou a chegar de comboio à ligação pode ser feita de múltiplas formas, dewde a net ao avião. Além de que não está sequer
projectada uma ligação total entre os países europeus, a começar porque os espanhóis não têm ainda prevista Bordéus e Madrid, pelo que Madrid e a outras cidades espanholas (ver site do Rave - Rede de Alta Velocidade http://www.rave.pt/tabid/189/Default.aspx). Tal como o TGV não é o alfa e o ómega que encerra toda a campanha eleitoral - está por perceber, aliás, o súbito interesse e insistência no tema, quando há outras linhas de fronteira entre PS e PSD -, é verdade que acerca deste projecto existem opiniões e concepções opostas e que a divisão que se abriu na campanha sobre este
assunto não é, de todo, menor. Mas uma coisa é discutir concepções de sociedade e modelos
de desenvolvimento e outra é resvalar no populismo, na demagogia e no apelo a preconceitos atávicos, só para rentabilizar nas urnas. Ora, quando afirma que "Portugal não é uma prov~incia espanhola", está a apelar a mitos
salazaristas, que não se resumem ao salazarismo, mas que são anteriores e que foram, aliás, bem aproveitados pela ditadura de Salazar. Mas que convivem mal com o ideário de um partido europeísta e moderno, como o PSD. Em resposta, o PS tem defendido a sua posição e tentado rentabilizar sem tropeçar muito. Mas na terça-feira à noite, em Leiria, o cabeça de lista e ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, parece ter-se esticado no entusiasmo iberista. Se não, vejamos: Amado considerou que "Portugal só pode ser um país plenamente
inserido na Europa quando a Espanha o for, a Ibéria o for, a Península Ibérica for um espaço de integração económica e política". E sublinhou que "a geatão dessa relação é
difícil, mas ela é a pedra angular da nossa relação estratégica com a Europa.(...) É a pedra angular da nossa inserção geopolítica no mundo do século XXI". E concluir que "quem
não compreende isto não pode ser primeiro-ministro de Portugal". O espanto perante as declarações de Luís Amado não advém da ideia de que elas sejam absurdas. Pelo contrário, consideramos que elas não poderam estar mais
certas. Mas o que individualmente tinham uma visão tão pro-iberista do lugar e do papel de Portugal no mundo. É possível que o pro-iberismo do PS venha a colher nas urnas, como
é possível que a forma como o PSD cavalgou esta onda populista e demagógica de antiespanholismo venha a render eleitoralmente. Afinal há sempre um lugar esquecido, não da Mancha no século XVII,
mas do Portugal profundo que está à espera de ser recordado e despertado no século XXI. Duvida-se é que o recuperar desses fantasmas seja algo que venha a marcar de forma positiva a política e o país. Muito menos ter a dimensão internacional e humanista da obra de Cervantes. __________________________ (1)Miguel de Cervantes y Saavedra, Obras Completas, Edições Aguilar, 14.ª edição, página 1037. Leonel Moura O apagão intelectual leonel.moura@mail.telepac.pt (ESTE EMBIRROU COM OLIVENÇA!!!!) -------------------------------------------------------------------------------- É lamentável que em Portugal se regresse com frequência a questões do passado sem qualquer interesse e que só servem para perder tempo. Esse fado, revelador do enorme atraso cultural de parte significativa da nossa classe política, não se manifesta só à direita, já que muita gente de esquerda partilha uma mesma atitude e
visão. É lamentável que em Portugal se regresse com frequência a questões do passado sem qualquer interesse e que só servem para perder tempo. Esse fado, revelador do enorme atraso cultural de parte significativa da nossa classe política, não se manifesta só à direita, já que muita gente de esquerda partilha uma mesma atitude e
visão. Por estes dias retomam-se os velhos rancores contra Espanha, do nem bons ventos, nem bons casamentos. Exceptuando os patéticos defensores de OLIVENÇA este é um assunto que felizmente deixou de fazer parte da conversa. Portugal é europeu. E a Espanha um dos nossos melhores parceiros, instalação em Braga do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia. Um projecto de grande ambição e relevância científica e civilizacional. Aliás, o argumento nacionalista que sempre deu os piores resultados para os povos - guerras, ódios, separações -, quando utilizado hoje no contexto europeu é simplesmente ridículo. A Europa de que fazemos parte é um modelo de cooperação e sinergia entre estados, com o objectivo, entre muita outra coisa, de evitar precisamente as divisões e conflitos do passado. Nessa perspectiva privilegia-se naturalmente tudo o que possa significar a colaboração e a unidade de esforços. Pretender que um projecto de ligação ferroviária entre dois países implicaria uma vantagem só para um deles, é pensar à antiga e exprimir uma visão claramente anti-europeia. Ainda mais incongruente quando Portugal só tem a Espanha como país de fronteira. Ou seja, a nossa ligação terrestre com a Europa tem um único caminho. Tudo o que signifique impedir esse caminho prejudica sobretudo o nosso país. Mas a polémica lançada por tem um alcance muito mais profundo do que a expressão de uma tese contrária às obras públicas. A cooperação não é hoje um mero conceito, mas um comportamento fundamental das sociedades evoluídas. A velha ideia de que em cada situação há um vencedor e um derrotado - os
chamados jogos de soma nula -, deriva de uma visão de conflitualidade antiprodutiva e, já
agora, anti-inteligente. Na economia e na vida temos procurado desenvolver as
situações em que todos ganham. O actual sistema de produção, económica, de ideias, de ciência ou de cultura, tem caminhado em direcção à combinação e à cooperação. Continuar a ver como um lugar do eles e do nós é impedir o desenvolvimento e frustrar
muitas oportunidades. Que ainda existam entre nós políticos com este tipo de visão tão retrógrada é lamentável. Mas que alguns deles se candidatem à gestão do país é anunciar o desastre, caso tal viesse a acontecer. Nestas eleições devia sobretudo discutir-se qual o modelo de desenvolvimento para o país, já que existem propostas muito divergentes. José Sócrates tem falado da modernização tecnológica, da formação dos portugueses e das novas oportunidades como forma de adaptar Portugal aos desafios do mundo contemporâneo. Bloco de Esquerda, Partido Comunista e CDS, para além de investirem sobretudo no mercado dos pobres e reformados, insistem nos velhos modelos produtivos. Do lado do PSD só se ouve falar de não gastar dinheiro e revogar muitas das medidas do actual governo. É parco para um modelo de desenvolvimento. Face a este panorama, num contexto eleitoral de tão grande importância
para o futuro do país, não pode deixar de manifestar-se alguma perplexidade pela passividade dos intelectuais e das pessoas do meio cultural. Bem sei que uma parte da cultura se transformou nas últimas décadas numa barricada conservadora e antitecnológica, na suposição de que as máquinas não permitem a manifestação do humano, o que é uma óbvia e comprovada tolice. São pois muitos os que detestam a ideia de modernização. Mas mesmo assim, da filosofia, da antropologia, da sociologia e em geral das artes, seria de esperar uma maior participação na definição do tempo presente e futuro. Há um efectivo apagão intelectual em Portugal. Ou será que o país deixou de ter gente
capaz de pensar para além da espuma da conjuntura? ________________________________________________________________________________ Financiamentos até €50.000. Simule já! Saiba mais em: http://www.iol.pt/correio/rodape.php?dst=0901273 |