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Jornal "24 HORAS", 22-Setembro-2009, Olivença,MUITO BOM, Joaquim Letria, "O Espião da Madeira" - Olivença é portuguesa !



Jornal "24 HORAS", 22-Setembro-2009, Olivença, MUITO BOM, Joaquim 

Letria, "O Espião da

Madeira", p. 45, 25.ª HORA

O ESPIÃO DA MADEIRA

POR JOAQUIM LETRIA(*)

__________

   (*) Para quem não sabe: Joaquim Letria é considerado um dos maiores 

jornalistas

portugueses. Esteve ligado à Presidência da República!!!)

________

    Os nossos políticos viraram as atenções para Espanha por causa do 

comboio rápido mas

esqueceram-se da presença da Banda de Olivença, no arquipélago da 

Madeira, aquando da

visita dos Reis de Espanha à pérola do Atlântico.

    Espanha poderia ter enviado outra banda das milhares de que 

dispõe, mas teve o

desplante de mandar a Banda de Olivença para que fique demonstrado que 

os portugueses,

continentais e insulares, com responsabilidades na sua terra, são 

mansos. Já em Julho os

extremenhos tiveram o cuidado de inaugurar em Olivença um busto de 

Miguel Godoy, o

principal carrasco de Olivença, na torre de menagem do castelo daquela 

vila, mandado

construir por...D. Dinis, sem que deste lado da fronteira alguém 

reagisse de qualquer

forma. Fazer a Banda de Olivença passar quatro dias na Madeira para 

dar dois concertos

como banda espanhola durante a visita real não incomodou ninguém no 

Funchal nem em

Lisboa. Extraordinário! Por estas e por outras até percebo que alguém 

mande um espião à

Madeira   para informar que raio andam a fazer os chefes dos 

portugueses. Porque os

espanhóis fizeram, e bem, a sua obrigação. Os nossos representantes, 

se calhar, andavam,

na poncha, nos bordados e no maracujá. (FIM)

 

________________________________________________________________________________

UMA INFORMAÇÃO PARTICULAR, QUE TALVEZ AJUDE A DISCUTIR O T.G.V., 

EVITANDO OMITIR FACTOS

HISTÓRICOS SOBRE OS COMBOIOS! RENVIO ESTA INFORMAÇÃO COMO ME FOI 

ENVIADA, ISTO É, SEM

AUTORIZAÇÃO, MAS COM O OBJECTIVO DE AJUDAR À DISCUSSÃO PÚBLICA, PARA 

QUE, COM MODERAÇÃO,

ESTEJAM PRESENTES TODOS OS ARGUMENTOS!!! Público, 15 de Setembro de 2009

  A VINGANÇA DE MANUELA FERREIRA LEITE

COMENTÁRIO

Carlos Cipriano

    No princípio, o Reino de Portugal começou por construir o 

caminho-se-ferro de Lisboa a

Elvas, numa linha onde algures num ponto chamado Entroncamento 

partiria um ramal para o

Porto. E assim foi. O comboio chegou primeiro a Badajoz em 1863, mas 

de Lisboa ao Porto

só viria a haver comboios directos em 1877 com a inauguração da Ponte 

de Maria Pia.

    A prioridade foi sempre a de ligar os portos a Espanha e por isso 

tudo se fez para

romper as linhas em direcção à fronteira. Enquanto a Linha do Norte 

foi construída aos

soluços, a da Beira Alta (1882), que ligaria Figueira da Foz a Vilar 

Formoso, foi feita

em quatro anos (um tempo recorde para a época) e pôs o Porto em 

polvorosa a clamar por

uma linha directa a Espanha pelo vale do Douro. Fez-se então a linha 

do Porto a Barca de

Alva (1887), após um investimento brutal que levaria a praça 

financeira da Invicta à

falência, ficando os seus bancos impedidos de cunhar moeda - um caso 

que ficou para a

História como a "Salamancada".

    Mais a sul, em 1880 era inaugurado o ramal de Cáceres (Torre das Vargens a

Beirã/Marvão), que constituía um bom atalho para Madrid. O objectivo 

era chegar aos

fosfatos da zona de Cáceres, que seriam escoados para o porto de 

Lisboa, mas a nova linha

revelou-se outro fiasco porque o filão esgotou rapidamente. Além das 

amortizações de um

investimento inútil, a Real Companhia dos Caminhos de Ferro 

(portuguesa) assumiu então

encargos que a obrigaram a pagar as obras de conservação da estação 

madrilena de Delícias.

    Enquanto isso, Espanha construía um eixo ferroviário desde Vigo 

até  Ayamonte que

contornava a fronteira portuguesa. Era a "cintura de ferro", como 

ficou conhecida. De

resto, em Badajoz e em Vilar Formoso, durante vários anos, havia linha 

desde Lisboa, mas

não havia continuação para Madrid porque os espanhóis tardaram em 

ligar-se às fronteiras.

    Portugal construíu, pois, a sua rede ao sabor dos interesses 

espanhóis. E também foram

eles os primeiros a fechar as poucas ligações à fronteira quando nos 

finais do século XX

se tornou moda encerrar linhas de caminha-de-ferro: desmantelaram a 

linha de Huelva a

Ayamonte e foram os primeiros a fechar La Fregeneda quando o comboio 

ainda apitava em

Barca de Alva.

    Mais recentemente, em 1998, a Refer inaugura a electrificação da 

Linha da Beira Alta

até Vilar Formoso. Mas a Espanha, apesar dos compromissos assumidos na 

Cimeira da

Figueira da Foz em 2003 e de já ter um projecto terminado, nunca 

avançou com as obras de

electrificação até à fronteira lusa.

    E quando nos alvores do século XXI se começa a falar no TGV, 

Portugal começou por

querer fazer uma linha Lisboa-Porto-Madrid ("T" deitado) para se opor 

ao centralismo do

país vizinho. Mas acbaria por se conformar com uma linha directa de 

Lisboa a Madrid. Com

prioridade para a primeira, claro. Tal como no século XIX.

    Ferreira Leite, se for eleita, diz que "não senhor". Explica que 

as motivações são

financeiras. Mas sabe-se lá se não quererá acertar contas com a História.

FIM

 

 

Jornal "TERRAS BRANCAS", Borba, 17-Setembro-2009

ESPANHÓIS E T.G.V.

    Não sou partidário de uma política feita contra Espanha. Não gosto 

de velhos

fantasmas. Também não sou partidário de Manuela Ferreira Leite, pois 

situo-me muito mais

à esquerda. Em linhas gerais, nem sou contra o T. G. V.

    Há, todavia, um aspecto que deixa qualquer conhecedor de um mínimo 

de História das

relações luso-espanholas algo perplexo. Na verdade, declarações de 

dirigentes espanhóis,

principalmente do Presidente da Extremadura espanhola, reforçadas 

agora por protestos do

Ministro Espanhol do Fomento, José Blanco, não podem deixar, no mínimo, de

fazer sorrir alguns portugueses.

    Assim, Guillermo Fernández Vara (natural de Olivença) diz não 

acreditar que Portugal

desista do TGV, «rompendo o acordo entre os dois países», pois trata-se de um

«compromisso internacional»; acrescenta que «Portugal, à semelhança 

dos seus dirigentes

políticos, é um país sério que sabe até onde tem de caminhar para 

preparar o futuro(...)».

    Comentaristas de jornais espanhóis opinam que Portugal não honrará os seus

compromissos se desistir do TGV, e que mesmo em termos morais tal 

atitude é criticável.

    Recordemos que no dia 1 de Setembro de 2009, numa reunião em Elvas 

entre autarcas

portugueses (Alandroal,

Arronches, Borba, Campo Maior, Crato, Elvas, Estremoz, Évora, Gavião, 

Portel, Redondo,

Reguengos de Monsaraz, Vila Viçosa) e espanhóis

(Cáceres, Mérida, Plasencia, Olivença e Lobón) para apoiar o TGV, 

Angel Calle, de Mérida,

em representação dos alcaides espanhóis, afirmou, entre outras coisas, 

que «os acordos

internacionais são para cumprir(...)».

    Ora, há algo nesta indignação que soa a contradição flagrante. Na 

verdade, todos estes

dirigentes políticos parecem esquecer-se de que, para Portugal, há um acordo

internacional não cumprido pela Espanha (1814-1815-1817), segundo o 

qual Olivença deveria

ter voltado à posse de Portugal. Razão porque o Estado Português não 

aceita, até hoje,

que Olivença seja território juridicamente espanhol. Até o Alqueva tem 

algo a ver com

isto, pois, pelos acordos de 1964 e 1968, ainda em vigor, é claro que 

a questão de

Olivença está presente. O que permite a Portugal explorar as águas do 

Alqueva sem que

quase nada temha de comunicar a Madrid. O Dicionário Jurídico da 

Administração Pública

(1999) explica bem a posição portuguesa, bem como as placas e 

indicações na estrada que

liga Elvas à Ponte da Ajuda.

    Conheço alguns dos dirigentes políticos espanhóis que têm 

produzido tais afirmações.

Penso serem pessoas de bem, e dirigentes que fazem o que podem

pelos seus povos, e até que querem mesmo promover a amizade com 

Portugal. Não questiono

esse aspecto, nem os inúmeros argumentos económicos a favor do TGV.

    Mas, por favor, não usem demasiado o argumento do respeito por tratados

internacionais. Não lhes fica bem.

Estremoz, 14 de Setembro de 2009

Carlos Eduardo da Cruz Luna

 

 

Jornal "ALENTEJO POPULAR" (Progressista)(Chega a todo o Alentejo), 

17-Setembro-ESPANHÓIS

E T.G.V.

    Não sou partidário de uma política feita contra Espanha. Não gosto 

de velhos

fantasmas. Também não sou partidário de Manuela Ferreira Leite, pois 

situo-me muito mais

à esquerda. Em linhas gerais, nem sou contra o T. G. V.

    Há, todavia, um aspecto que deixa qualquer conhecedor de um mínimo 

de História das

relações luso-espanholas algo perplexo. Na verdade, declarações de 

dirigentes espanhóis,

principalmente do Presidente da Extremadura espanhola, reforçadas 

agora por protestos do

Ministro Espanhol do Fomento, José Blanco, não podem deixar, no mínimo, de

fazer sorrir alguns portugueses.

    Assim, Guillermo Fernández Vara (natural de Olivença) diz não 

acreditar que Portugal

desista do TGV, «rompendo o acordo entre os dois países», pois trata-se de um

«compromisso internacional»; acrescenta que «Portugal, à semelhança 

dos seus dirigentes

políticos, é um país sério que sabe até onde tem de caminhar para 

preparar o futuro(...)».

    Comentaristas de jornais espanhóis opinam que Portugal não honrará os seus

compromissos se desistir do TGV, e que mesmo em termos morais tal 

atitude é criticável.

    Recordemos que no dia 1 de Setembro de 2009, numa reunião em Elvas 

entre autarcas

portugueses (Alandroal,

Arronches, Borba, Campo Maior, Crato, Elvas, Estremoz, Évora, Gavião, 

Portel, Redondo,

Reguengos de Monsaraz, Vila Viçosa) e espanhóis

(Cáceres, Mérida, Plasencia, Olivença e Lobón) para apoiar o TGV, 

Angel Calle, de Mérida,

em representação dos alcaides espanhóis, afirmou, entre outras coisas, 

que «os acordos

internacionais são para cumprir(...)».

    Ora, há algo nesta indignação que soa a contradição flagrante. Na 

verdade, todos estes

dirigentes políticos parecem esquecer-se de que, para Portugal, há um acordo

internacional não cumprido pela Espanha (1814-1815-1817), segundo o 

qual Olivença deveria

ter voltado à posse de Portugal. Razão porque o Estado Português não 

aceita, até hoje,

que Olivença seja território juridicamente espanhol. Até o Alqueva tem 

algo a ver com

isto, pois, pelos acordos de 1964 e 1968, ainda em vigor, é claro que 

a questão de

Olivença está presente. O que permite a Portugal explorar as águas do 

Alqueva sem que

quase nada temha de comunicar a Madrid. O Dicionário Jurídico da 

Administração Pública

(1999) explica bem a posição portuguesa, bem como as placas e 

indicações na estrada que

liga Elvas à Ponte da Ajuda.

    Conheço alguns dos dirigentes políticos espanhóis que têm 

produzido tais afirmações.

Penso serem pessoas de bem, e dirigentes que fazem o que podem

pelos seus povos, e até que querem mesmo promover a amizade com 

Portugal. Não questiono

esse aspecto, nem os inúmeros argumentos económicos a favor do TGV.

    Mas, por favor, não usem demasiado o argumento do respeito por tratados

internacionais. Não lhes fica bem.

Estremoz, 14 de Setembro de 2009

Carlos Eduardo da Cruz Luna

 

 

  Jornal "A PLANÍCIE", Moura, 17-Setembro-2009

 

ESTRANHOS ARGUMENTOS EM TORNO DO TGV

    Não é intenção deste artigo de opinião emitir juízos sobre a 

construção, ou não, do

TGV (Madrid-Badajoz-Elvas-Lisboa), da sua oportunidade, ou outras 

considerações. Para

isso, muito se tem escrito e escreverá, e será óptimo que a opinião 

pública esteja o mais

esclarecida possível.

    Há, todavia, um aspecto que deixa qualquer conhecedor de um mínimo 

de História das

relações luso-espanholas algo perplexo. Na verdade, declarações de 

dirigentes espanhóis,

principalmente do Presidente da Extremadura espanhola, não podem 

deixar, no mínimo, de

fazer sorrir alguns portugueses.

    Assim, Guillermo Fernández Vara (natural de Olivença) diz não 

acreditar que Portugal

desista do TGV, «rompendo o acordo entre os dois países», pois trata-se de um

«compromisso internacional»; acrescenta que «Portugal, à semelhança 

dos seus dirigentes

políticos, é um país sério que sabe até onde tem de caminhar para 

preparar o futuro(...)».

    Comentaristas de jornais espanhóis opinam que Portugal não honrará os seus

compromissos se desistir do TGV, e que mesmo em termos morais tal 

atitude é criticável.

    No dia 1 de Setembro, numa reunião em Elvas entre autarcas 

portugueses (Alandroal,

Arronches, Borba, Campo Maior, Crato, Elvas, Estremoz, Évora, Gavião, 

Portel, Redondo,

Reguengos de Monsaraz, Vila Viçosa) e espanhóis

(Cáceres, Mérida, Plasencia, Olivença e Lobón) para apoiar o TGV, 

Angel Calle, de Mérida,

em representação dos alcaides espanhóis, afirmou, entre outras coisas, 

que «os acordos

internacionais são para cumprir(...)».

    Ora, há algo nesta indignação que soa a contradição flagrante. Na 

verdade, todos estes

dirigentes políticos parecem esquecer-se de que, para Portugal, há um acordo

internacional não cumprido pela Espanha (1814-1815-1817), segundo o 

qual Olivença deveria

ter voltado à posse de Portugal. Razão porque o Estado Português não 

aceita, até hoje,

que Olivença seja território juridicamente espanhol. Curiosamente, em 

relação à obrigação

da  devolução,  e talvez como ironia suprema face ao que está a 

acontecer, houve até quem

já escrevesse que a Espanha só teria uma obrigação moral,

portanto não claramente vinculativa.

    Será que todos estes autarcas e políticos em geral têm consciência 

de como soam a

falaciosos, neste contexto, alguns dos seus argumentos?

    Conheço alguns deles. Penso serem pessoas de bem, e dirigentes que 

fazem o que podem

pelos seus povos, e até que querem mesmo promover a amizade com 

Portugal. Não questiono

esse aspecto, nem os inúmeros argumentos económicos a favor do TGV. 

Talvez apoie, ou não,

alguns deles.

    Mas, por favor, não usem demasiado o argumento do respeito por tratados

internacionais. Não lhes fica bem.

Estremoz, 02 de Setembro de 2009

Carlos Eduardo da Cruz Luna

 

 

 

PÚBLICO, 19 de Setembro de 2009 //POPULISMO E DEMAGOGIA (NOTA: 

vejam-se partes doe um

discurso de Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros. FIM DA NOTA)

A SEMANA POLÍTICA DE SÃO JOSÉ ALMEIDA

POPULISMO E DEMAGOGIA

São José Almeida

«En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha 

mucho tiempo que

vivia un hidalgo...»(1)

    Assim começa um dos romances míticos da humanidade, escrito por um 

senhor chamado

Miguel de Cervantes y Saavedra na passagem do século XVI para o século 

XVII e um dos

ângulos pelos quais pode ser analisado é pelo da resistência de uma 

cultura medieval e

nobre ao avanço do capitalismo e da burguesia na Europa.

    Este romance da humanidade foi chamado à campanha por Pacheco 

Pereira, cabeça de lista

do PSD de Santarém, que o aconselhou como leitura ao líder do PS e 

Primeiro-ministro,

José Sócrates, a propósito da polémica sobre o TGV.

    Desconhece-se qual o real motivo por que Pacheco Pereira recomenda 

esta leitura, mas a

lembrança de "Don Quijote de la Mancha" assenta de facto como uma luva 

para caracterizar

a clivagem que se está a estabelecer no discurso de campanha entre o 

PS e o PSD.

    Independentemente dos méritos e dos deméritos que uma linha férrea 

de alta velocidade

possa ter, não só como meio de transporte, como enquanto investimento 

público, há uma

dimensão simbólica no debate, que tem sido protagonizado por José 

Sócrates e Manuela

Ferreira Leite, que mais não é do que uma visão conservadora e 

representativa de um mundo

em extinção e uma visão modernizadora e ávida do progresso. Isto, 

claro, com toda a

demagogia e todo o populismo que tais posições podem adquirir, quando 

simplificadas sob a

forma de discurso de campanha.

   É certo que o investimento no TGV cria emprego e negócio, como é 

certo que há outras

formas de o conseguir. É certo que é um projecto modernizador da 

sociedade portuguesa,

mas também é certo que não é esta a única forma de modernizar a mesma 

sociedade

portuguesa e os transportes em particular, nem mesmo os ferroviários.

    É certo que Portugal yem compromissos assinados com o Governo 

espanhol e com a União

Europeia para construir a ligação por TGV a Madrid. Mas também é 

absolutamente verdade

que todos os acordos são renegociáveis desde que haja vontade política 

de o fazer.

    Assim como também é certo que este investimento significa a 

entrada de Portugal num

segmento de país com transportes de ponta, mas também não deixa de ser 

verdade que há

países que nada devem ao atraso que não têm TGV, a começar pelo Norte 

da Europa.

    E se de facto a ligação ferroviária à Europa tem uma força 

simbólica grande, desde o

tempo em que, no século XIX, a actualidade cultural e literária 

começou a chegar de

comboio à Universidade de Coimbra, é igualmente verdade que esta 

ligação pode ser feita

de múltiplas formas, dewde a net ao avião. Além de que não está sequer 

projectada uma

ligação total entre os países europeus, a começar porque os espanhóis 

não têm ainda

prevista a data da construção da ligação de alta velocidade entre 

Bordéus e Madrid, pelo

que a linha portuguesa ligará, por agora, apenas Lisboa e o Porto a 

Madrid e a outras

cidades espanholas (ver site do Rave - Rede de Alta Velocidade

http://www.rave.pt/tabid/189/Default.aspx).

    Tal como o TGV não é o alfa e o ómega que encerra toda a campanha 

eleitoral - está por

perceber, aliás, o súbito interesse e insistência no tema, quando há 

outras linhas de

fronteira entre PS e PSD -, é verdade que acerca deste projecto 

existem opiniões e

concepções opostas e que a divisão que se abriu na campanha sobre este 

assunto não é, de

todo, menor. Mas uma coisa é discutir concepções de sociedade e modelos de

desenvolvimento e outra é resvalar no populismo, na demagogia e no 

apelo a preconceitos

atávicos, só para rentabilizar nas urnas.

    Ora, quando Manuela Ferreira Leite, no debate com José Sócrates, 

afirma que "Portugal

não é uma prov~incia espanhola", está a apelar a mitos salazaristas, 

que não se resumem

ao salazarismo, mas que são anteriores e que foram, aliás, bem 

aproveitados pela ditadura

de Salazar. Mas que convivem mal com o ideário de um partido 

europeísta e moderno, como o

PSD.

    Em resposta, o PS tem defendido a sua posição e tentado 

rentabilizar sem tropeçar

muito. Mas na terça-feira à noite, em Leiria, o cabeça de lista e 

ministro dos Negócios

Estrangeiros, Luís Amado, parece ter-se esticado no entusiasmo 

iberista. Se não, vejamos:

Amado considerou que "Portugal só pode ser um país plenamente inserido 

na Europa quando a

Espanha o for, a Ibéria o for, a Península Ibérica for um espaço de 

integração económica

e política". E sublinhou que "a geatão dessa relação é difícil, mas 

ela é a pedra angular

da nossa relação estratégica com a Europa.(...) É a pedra angular da 

nossa inserção

geopolítica no mundo do século XXI". E concluir que "quem não 

compreende isto não pode

ser primeiro-ministro de Portugal".

    O espanto perante as declarações de Luís Amado não advém da ideia 

de que elas sejam

absurdas. Pelo contrário, consideramos que elas não poderam estar mais 

certas. Mas o que

o país não sabia é que o PS, enquanto partido, e Luís Amado 

individualmente tinham uma

visão tão pro-iberista do lugar e do papel de Portugal no mundo.

    É possível que o pro-iberismo do PS venha a colher nas urnas, como 

é possível que a

forma como o PSD cavalgou esta onda populista e demagógica de 

antiespanholismo venha a

render eleitoralmente.

    Afinal há sempre um lugar esquecido, não da Mancha no século XVII, 

mas do Portugal

profundo que está à espera de ser recordado e despertado no século 

XXI. Duvida-se é que o

recuperar desses fantasmas seja algo que venha a marcar de forma 

positiva a política e o

país. Muito menos ter a dimensão internacional e humanista da obra de 

Cervantes.

__________________________

(1)Miguel de Cervantes y Saavedra, Obras Completas, Edições Aguilar, 

14.ª edição, página

1037.

 

 

 

 

 

 

Jornal de Negócios, 18 de Setembro de 2009 (Este embirrou com Olivença...)

Leonel Moura

O apagão intelectual

leonel.moura@mail.telepac.pt (ESTE EMBIRROU COM OLIVENÇA!!!!)

 

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É lamentável que em Portugal se regresse com frequência a questões do 

passado sem

qualquer interesse e que só servem para perder tempo. Esse fado, 

revelador do enorme

atraso cultural de parte significativa da nossa classe política, não 

se manifesta só à

direita, já que muita gente de esquerda partilha uma mesma atitude e visão.

 

 

É lamentável que em Portugal se regresse com frequência a questões do 

passado sem

qualquer interesse e que só servem para perder tempo. Esse fado, 

revelador do enorme

atraso cultural de parte significativa da nossa classe política, não 

se manifesta só à

direita, já que muita gente de esquerda partilha uma mesma atitude e visão.

 

Por estes dias retomam-se os velhos rancores contra Espanha, do nem 

bons ventos, nem bons

casamentos. Exceptuando os patéticos defensores de OLIVENÇA este é um 

assunto que

felizmente deixou de fazer parte da conversa. Portugal é europeu. E a 

Espanha um dos

nossos melhores parceiros, em muitos campos. Veja-se o caso da 

instalação em Braga do

Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia. Um projecto de 

grande ambição e

relevância científica e civilizacional.

 

Aliás, o argumento nacionalista que sempre deu os piores resultados 

para os povos -

guerras, ódios, separações -, quando utilizado hoje no contexto 

europeu é simplesmente

ridículo. A Europa de que fazemos parte é um modelo de cooperação e 

sinergia entre

estados, com o objectivo, entre muita outra coisa, de evitar 

precisamente as divisões e

conflitos do passado. Nessa perspectiva privilegia-se naturalmente 

tudo o que possa

significar a colaboração e a unidade de esforços. Pretender que um 

projecto de ligação

ferroviária entre dois países implicaria uma vantagem só para um 

deles, é pensar à antiga

e exprimir uma visão claramente anti-europeia.

 

Ainda mais incongruente quando Portugal só tem a Espanha como país de 

fronteira. Ou seja,

a nossa ligação terrestre com a Europa tem um único caminho. Tudo o 

que signifique

impedir esse caminho prejudica sobretudo o nosso país.

 

Mas a polémica lançada por Manuela Ferreira Leite a propósito do TGV 

tem um alcance muito

mais profundo do que a expressão de uma tese contrária às obras 

públicas. A cooperação

não é hoje um mero conceito, mas um comportamento fundamental das 

sociedades evoluídas. A

velha ideia de que em cada situação há um vencedor e um derrotado - os 

chamados jogos de

soma nula -, deriva de uma visão de conflitualidade antiprodutiva e, já agora,

anti-inteligente. Na economia e na vida temos procurado desenvolver as 

situações em que

todos ganham. O actual sistema de produção, económica, de ideias, de 

ciência ou de

cultura, tem caminhado em direcção à combinação e à cooperação. 

Continuar a ver o mundo

como um lugar do eles e do nós é impedir o desenvolvimento e frustrar muitas

oportunidades.

 

Que ainda existam entre nós políticos com este tipo de visão tão 

retrógrada é lamentável.

Mas que alguns deles se candidatem à gestão do país é anunciar o 

desastre, caso tal

viesse a acontecer.

 

Nestas eleições devia sobretudo discutir-se qual o modelo de 

desenvolvimento para o país,

já que existem propostas muito divergentes. José Sócrates tem falado 

da modernização

tecnológica, da formação dos portugueses e das novas oportunidades 

como forma de adaptar

Portugal aos desafios do mundo contemporâneo. Bloco de Esquerda, 

Partido Comunista e CDS,

para além de investirem sobretudo no mercado dos pobres e reformados, 

insistem nos velhos

modelos produtivos. Do lado do PSD só se ouve falar de não gastar 

dinheiro e revogar

muitas das medidas do actual governo. É parco para um modelo de 

desenvolvimento.

 

Face a este panorama, num contexto eleitoral de tão grande importância 

para o futuro do

país, não pode deixar de manifestar-se alguma perplexidade pela 

passividade dos

intelectuais e das pessoas do meio cultural. Bem sei que uma parte da 

cultura se

transformou nas últimas décadas numa barricada conservadora e 

antitecnológica, na

suposição de que as máquinas não permitem a manifestação do humano, o 

que é uma óbvia e

comprovada tolice. São pois muitos os que detestam a ideia de 

modernização. Mas mesmo

assim, da filosofia, da antropologia, da sociologia e em geral das 

artes, seria de

esperar uma maior participação na definição do tempo presente e 

futuro. Há um efectivo

apagão intelectual em Portugal. Ou será que o país deixou de ter gente 

capaz de pensar

para além da espuma da conjuntura?

 

 

 

 

 

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